Poder Oeste de Westeros

Chapter 7: Verdade e casamento



A sala estava envolta em um silêncio profundo, apenas interrompido pelo suave crepitar das tochas. Jon segurava o ovo de dragão com reverência, sentindo o calor pulsante que emanava de dentro da casca. Ao seu lado, Daenerys olhava para o ovo verde com uma determinação recém-descoberta.

Rhaella caminhou até eles, seus passos ecoando no chão de pedra. Parou a poucos metros, seu olhar alternando entre os dois.

— Há um risco nisso, sabem? — disse Rhaella, com um tom de advertência. — O fogo que desperta dragões também pode consumir tudo ao seu redor. Vocês não estão apenas invocando poder, mas responsabilidade.

Daenerys levantou o queixo, seus olhos violetas brilhando como brasas.

— Somos Targaryen. O fogo está em nosso sangue. Não tememos as chamas.

Jon, com a expressão firme, acrescentou:

— É um risco que vale a pena correr. O mundo precisa de algo que inspire esperança... e temor. Dragões são isso.

Rhaella mostrou um toque de tristeza em seu olhar.

— Então sigam adiante. Mas lembrem-se, não é apenas o fogo que faz um dragão. É o propósito. Não desperdicem essa chance.

Daenerys deu um passo à frente, aproximando-se da pira que havia montado no centro do salão. Era uma estrutura robusta, cercada por tochas e coberta de ervas aromáticas. O ovo verde estava no centro, com os outros dois — um negro e um dourado — ao lado. Ela olhou para Jon, que se posicionou ao seu lado.

— Está pronto? — perguntou ela.

— Sempre estive — respondeu ele.

Jon acendeu a pira com uma tocha. As chamas lamberam a madeira, crescendo em intensidade. O calor era quase insuportável, mas nenhum dos dois recuou. Daenerys estendeu a mão, sentindo o calor penetrar em sua pele, como se o fogo a chamasse, convidando-a a se fundir com ele.

Subitamente, o ar ao redor deles mudou. Uma vibração intensa percorreu o salão, como se o próprio mundo segurasse a respiração. As chamas começaram a dançar de maneira incomum, girando em torno dos ovos, que brilhavam com uma luz sobrenatural.

— Está acontecendo — murmurou Jon, os olhos arregalados.

Daenerys deu um passo à frente, seus olhos fixos nos ovos. Um som baixo, como um rugido abafado, ecoou pelo salão. À medida que as cascas começavam a rachar, linhas douradas apareciam em cada ovo. As rachaduras se ampliaram até que, com um estalo alto, as cascas se romperam.

Três formas emergiram das chamas. Três dragões, pequenos, mas radiantes, suas escamas brilhando nas cores de seus ovos. O dourado soltou um grito agudo, o negro rugiu com força, e o verde, que se aproximou de Daenerys, bateu as asas suavemente.

Jon e Daenerys se aproximaram, o calor das chamas parecendo insignificante diante da visão diante deles. Daenerys estendeu a mão, e o dragão verde tocou-a com o focinho, emitindo um som suave, quase como um ronronar.

— Eles são magníficos — murmurou Jon, sem tirar os olhos das criaturas.

Rhaella, que observava à distância, aproximou-se com uma expressão de reverência.

— Dragões renascidos para uma nova era... Mas lembrem-se, eles não são apenas armas. Eles são vida, e a ligação com eles será sua força — ou sua ruína.

Daenerys olhou para Jon.

— Eles são o futuro, Jon. O nosso futuro.

Ele segurou a mão dela, um gesto silencioso de solidariedade.

— Então vamos moldar esse futuro juntos.

Os dragões se reuniram ao redor deles, seus olhos brilhando com uma inteligência primitiva. E ali, no coração das chamas, o destino de Westeros começou a ser reescrito.

O silêncio tomou conta da sala quando Jon segurou o pequeno dragão negro em seus braços. Fúria, como ele o havia nomeado, soltou um som grave, quase como se aprovasse as palavras de seu dono. O brilho das tochas refletia nas escamas do dragão, enquanto Jon olhava com firmeza para Rhaella e Daenerys.

— Eu desejo ir para o Oeste de Westeros — disse Jon, sua voz firme, mas contendo uma ânsia por liberdade.

Rhaella franziu o cenho, surpresa.

— Não sabemos o que há ao Oeste, Jon. Pode haver um país, ou pode não haver nada além do mar aberto. É uma viagem perigosa, uma aposta com sua própria vida.

Daenerys, segurando o dragão verde, Esmeralda, observava a troca entre os dois em silêncio, seus olhos cheios de curiosidade e preocupação.

Jon manteve o olhar fixo em Rhaella.

— Avó, eu preciso ir. Não quero voltar para os Sete Reinos, sentar-me no Trono de Ferro, apenas para ser assassinado por um senhor Dornês louco, ou pelos conspiradores da Fé ou da Cidadela.

— Como assim? — disse Rhaella, seus olhos estreitos em dúvida.

Jon removeu uma vela de vidro que pendia em seu pescoço, presa a uma corrente de rubi. Ele a segurou na palma da mão, e a luz suave que emanava iluminava seu rosto com um brilho fantasmagórico.

— Isso — disse ele, apontando para a vela. — Isso me mostrou coisas que a maioria dos homens não consegue enxergar. Vi as conspirações que se movem nas sombras dos Sete Reinos. A Fé dos Sete, a Cidadela, as grandes casas... todos prontos para se rebelar assim que um Targaryen reivindicar o trono. Eles odeiam o que representamos, avó. Odeiam o fogo e o sangue. Odeiam dragões.

Rhaella deu um passo para trás, o peso das palavras de Jon caindo sobre seus ombros.

— Você está dizendo que há uma conspiração contra nós?

Jon assentiu, seus olhos cinzentos ardendo com determinação.

— Eles não querem o Trono de Ferro nas mãos de um Targaryen. Se eu voltar, se assumirmos o trono, será uma guerra interminável. Sangue derramado em nome de um poder que eu nem quero. Avó, eu quero ser livre. E você? Não quer ser livre também?

Rhaella ficou em silêncio, sua expressão pensativa enquanto ponderava as palavras de Jon. Ela olhou para Daenerys, que parecia tão dividida quanto ela.

Daenerys finalmente falou, sua voz baixa, mas firme.

— E se não houver nada no Oeste? E você encontrar apenas o vazio?

Jon olhou para ela, o dragão negro aninhado em seus braços soltando um som baixo.

— Então eu terei encontrado a paz. Mas eu não posso ficar aqui, preso pelas correntes de um passado que não me pertence.

Rhaella suspirou, o peso da escolha visível em seus olhos.

— Se essa é a sua decisão, Jon, eu não posso impedi-lo. Mas saiba que essa jornada será a mais difícil da sua vida. Você pode perder tudo.

Jon deu um meio sorriso, apertando Fúria em seus braços.

— Já perdi muito, avó. O que me resta é tentar encontrar algo que valha a pena.

Daenerys deu um passo à frente, encarando Jon com um olhar desafiador.

— Então não vá sozinho. Se você vai buscar liberdade, eu também irei. Westeros não é um lugar para dragões. O Oeste pode ser.

Jon olhou para ela, surpreso, mas grato. Ele assentiu lentamente, percebendo que, talvez, essa jornada não precisasse ser solitária.

Rhaella os inspirou, seus olhos cheios de tristeza, mas também de orgulho.

— Então sigam juntos, mas não esqueçam quem vocês são. Onde quer que cheguem, lembrem-se: vocês são Targaryen. E, mais importante, vocês são família.

Jon e Daenerys ficaram surpresos com a determinação nas palavras de Rhaella. A postura da matriarca, antes serena, agora irradiava uma força que os fez perceber o quanto ela estava disposta a lutar por eles.

— Eu vou junto com vocês — declarou Rhaella, os olhos firmes e cheios de emoção. — Acabei de encontrar minha única filha, e nada neste mundo me separará dela... ou de você, meu neto.

Daenerys olhou para a mãe com lágrimas nos olhos. Desde que se lembrava, tinha vivido uma vida de solidão, perda e luta. Agora, diante da promessa de sua mãe de não deixá-la novamente, sentia uma onda de calor preenchendo seu coração.

— Mãe... — Daenerys, emocionada.

Rhaella segurou o rosto de Daenerys entre as mãos.

— Por muito tempo, fui obrigada a sacrificar o que era mais importante para mim. Meu amor, minha liberdade, minha felicidade... tudo pelos interesses da Casa Targaryen. Mas isso acabou. Vocês dois são minha família, e não há nada mais importante do que isso. Se for para o Oeste, eu irei também.

Jon, que até então permanecia em silêncio, respirou fundo.

— Avó, você sabe que essa jornada será perigosa. Não sabemos o que encontraremos além do mar. Pode ser que não haja nada.

Rhaella ergueu o queixo, os olhos fixos em Jon.

— Você acha que tenho medo do desconhecido, Jon? Eu sobrevivi à guerra, perdi meus filhos, fui forçada a fugir da minha terra natal. Não há nada que o Oeste possa me mostrar que seja mais terrível do que o que já enfrentei.

Jon não conseguiu conter um sorriso diante da firmeza de sua avó. Ele sentiu o peso de sua escolha diminuir um pouco. Com Rhaella ao lado deles, a jornada parecia menos solitária, menos incerta.

Daenerys colocou a mão no ombro de Jon, seus olhos brilhando com determinação.

— Então estamos decididos. Vamos juntos. Para o Oeste.

— Para o Oeste — repetiu Rhaella, um sorriso sutil em seus lábios.

Fúria soltou um pequeno rugido em concordância, enquanto Esmeralda e o pequeno dragão dourado, que Daeneryss chamava de Sol, voaram para perto deles, circulando com curiosidade. Os três dragões transmitiram uma força renovada a seus companheiros humanos.

— Precisaremos de um navio — disse Jon, já pensando nos preparativos. — Um que aguente semanas ou até meses no mar. E provisões suficientes para sustentar todos nós e os dragões.

Daenerys concordou.

— E discretamente. Não podemos deixar que ninguém saiba para onde vamos. Westeros não precisa de mais uma lenda sobre os desaparecidos de Targaryen.

Rhaella deu um último olhar ao salão em que estavam, examinando os detalhes das chamas que ainda ardiam nas tochas.

— Então vamos começar. Porque, quando sairmos daqui, não haverá volta.

Os três se entreolharam, a determinação refletida nos olhos de cada um. O Oeste, o desconhecido, agora era o destino deles. Não era apenas uma fuga, mas uma busca por liberdade, esperança e, talvez, apenas talvez, um novo larrr.


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